A chamada Felicidade

Gosto de acordar cedo, mesmo que não o faça tão regularmente como gostaria. Demorar o meu tempo na cama e lentamente acordar-me a mim mesma. Ganhar tempo do dia para fazer o que gosto ou simplesmente deixar-me existir. Gosto de meditar pela manhã, pela tarde e pela noite. Na realidade gosto de meditar a qualquer altura do dia, desde que medite. A minha consciência vem à superfície quando o faço e sinto-me mais desperta, mais genuína, mais eu. Gosto de escrever, seja do que for, relembra-me da parte criativa que sempre tive desde pequena e que ao longo do tempo fui negligenciando como de uma criança se tratasse. Nesse tempo de miúda escrevia maioritariamente poemas, canções e pequenas histórias, mas nada fazia com elas, apenas me dava gozo. Gosto de música desde sempre, mas esta paixão tornou-se ainda maior desde os meus 18 anos, eu diria. Oiço música o tempo todo a menos que realmente me queira concentrar em algo, porque eu sei que com música de fundo eu não vou conseguir resistir ao forte impulso que tenho de dançar. Dançar, outra das minhas paixões que sempre tive, mas nunca afinei, com muito desgosto meu. Atualmente apenas danço loucamente em casa ou em saídas aleatórias em discotecas ou bares, ou seja qual for o sítio onde passam música e a minha dança é genuína e algo que não me importa se os outros gostam ou não porque se trata de controlar o meu corpo de uma maneira ordenada por mim e libertá-lo ao ritmo do som que escuto. Gosto de cantar, apesar de não ter uma voz de outro mundo, sempre me deu imenso prazer, sempre. Não o faço para os outros, até porque tenho um pouco de vergonha de mostrar esse lado meu, mas é um dos meus amores mais antigos. Gosto de cinema. Gosto especialmente de documentários. Confesso que houve uma altura em que era ainda mais fanática e devorava todos os filmes que me parecessem ser suficientemente interessantes para eu não pensar que estaria a gastar o meu tempo. Gosto de ser organizada. A partir do momento em que algo está fora do sítio já me parece estar tudo desmoronado, sou uma minimalista compulsiva e não gosto de manter objetos desnecessários em minha posse. Não gosto da ideia de me apagar a algo inanimado por lhe ter uma memória associada. Dar-lhe um sentido emocional quando de facto é apenas um objeto. Não gosto de ter mobília a mais ou de ver excessos, seja em mim ou na minha casa. Gosto de fazer ioga, dos movimentos complicados, mas elegantes que fazemos durante a prática. De toda a paz e calma que me traz no decorrer e mesmo depois. Gosto de tocar piano. Uma capacidade que tive a oportunidade de aprender com muitas aulas e prática. Hoje ainda toco, talvez não da maneira que tocava na altura ou com a mesma dedicação. Cheguei a tocar para públicos enormes em eventos organizados pela minha professora da altura e agradeço-lhe tanto por ter puxado por mim, uma criança fechada e calada, que preferia tocar para si e não para os outros. Mesmo assim, e não sei como, fi-lo, várias vezes. Gosto de caminhar, de estar no exterior, algures em contacto com a natureza. Seja na floresta, na praia, no mato ou na serra. De fazer longos percursos por sítios que me deem vida, de ver os pequenos detalhes em cada um dos lugares. De sentir a minha pele e alma a serem ambas aquecidas pelo calor que me traz o sol. Sentir as minhas energias a serem respostas por todas as coisas que me oferecem felicidade a cada dia que passa. E a cada dia que passa sinto-me grata e um pouco menos infeliz do que outrora já fui. Vejo a felicidade como algo inalcançável se procurarmos por ela em demasia, mas ao mesmo tempo algo tão simples de encontrar se, simplesmente, nos deixarmos ir.

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